Vivemos hoje em um mundo de diversidades, tecnológico, rápido, intenso, interativo, volátil, incerto, complexo e ambíguo. Essa realidade acelerada e cheia de mudanças aumenta as nossas incertezas e causa o famoso “Eu sei o que não sei”. E, como se já não fosse o bastante, somamos a isso o nosso diálogo interno que normalmente está julgando algo do passado ou prevendo algo catastrófico no futuro.
Nessa corrida em tentar buscar cada vez mais saber o que não se sabe e acompanhar as mudanças, desenvolvemos o “Multi-tasking”, ou seja, “fazer várias coisas ao mesmo tempo”: participamos de reuniões on-line ao mesmo tempo em que respondemos uma ou várias mensagens em aplicativos e, ao mesmo tempo, engolimos o almoço porque “não deu tempo”, tudo com o objetivo de dar conta da demanda. Mas eu gostaria de te fazer uma pergunta: qual o sabor da comida que você acabou de engolir?; qual a postura do seu corpo agora?; qual a textura do alimento que você absorveu?
Nos momentos “multi-tasking” perde-se o nosso maior bem: o tempo do momento presente, o aqui e o agora com qualidade, a conexão ação/pensamento. Estamos desconectados do agora, sofrendo com a voz interna (aqueles nossos pensamentos dramáticos e catastróficos) nos dizendo tudo que fizemos de errado e tudo que vamos sofrer no futuro, pulando incessantemente de pensamento em pensamento, o que causa medos, raivas, inseguranças, preocupações, críticas, julgamentos… E, no fim, deixamos de desfrutar o simples prazer da vida.
Então, quando optamos por fazer algo que precisa da nossa atenção, nos desconectamos deste ser “multi-tasking” e passamos a sincronizar intencionalmente mente e corpo em uma única tarefa no momento presente, sem a preocupação com julgamentos ou medos, apenas realizando algo intensamente. Neste momento, todas as nossas células estão focadas: uma escolha consciente em prestar atenção no aqui e agora.
Se nossa mente não está mais com um turbilhão de questões e apenas focada intencionalmente na atividade que nosso corpo está realizando, ocorre uma sensação de tranquilidade, de paz, de completude, de bem-estar. E essa atividade não precisa ser algo grandioso que demande o tempo “que você não tem”, afinal, cinco minutos com real intenção podem ser mais valiosos do que cinco horas com pouca intenção.
Por exemplo, entre uma reunião/atividade e outra do seu dia, pare por 5 minutos e faça um combinado com você mesmo: “vou me presentear com 5 minutos de autocuidado”. Posicione-se confortavelmente numa cadeira ou colchão, permita que seu corpo se estabilize fazendo 1 ou 2 respirações profundas e preste atenção na sua respiração. O foco pode ser no ar entrando e saindo das narinas ou no movimento do peito e barriga. Não tente controlar o ritmo da respiração, apenas perceba como ela ocorre.
Esteja consciente da sua respiração. Eventualmente você vai perder o foco do pensamento. Perceba quando o seu foco foi roubado e não seja duro consigo mesmo, não se culpe e nem se julgue, em vez disso, treine uma reação natural e lembre da sua intenção: “porque eu estou fazendo isso?” (presentear com 5 minutos de bem-estar no meio do seu dia atarefado e reduzir seu estresse).
Essa distração pode ocorrer várias vezes durante esses 5 minutos e está tudo bem, apenas volte a atenção à respiração, preste atenção a cada respiração como se fosse a primeira, com curiosidade apenas observe sua respiração, o ar entrando e saindo lentamente. Passados os 5 minutos, observe como você está, dê atenção às sensações do seu corpo e aos poucos finalize a prática. Depois vá para sua reunião/atividade com a certeza que se deu um lindo presente de autocuidado.
Valorize seu tempo. Todas as vezes que você perceber que não está presente no aqui e agora, você tem uma oportunidade de treinar e fazer algo amável com você mesma.
Experimente lavar a louça prestando atenção na atividade, na temperatura da água, em como ela escorre pelas suas mãos, na textura do detergente e da esponja, no movimento que suas mãos fazem. Experimente também criar essa curiosidade ao tomar banho, a temperatura da água, como ela passa pelo seu corpo, o cheiro do sabonete, do shampoo, as sensações que seu corpo experiencia na atividade. Saia do piloto automático!
Construa rotas para o seu bem-estar, a vida acontece na prática!
Dica de leitura 1: Livro Mindfulness: atenção plena no movimento de Dra. Tamara Russel
Dica de leitura 2: Livro Atenção Plena: Mindfulness – como encontrar a paz em um mundo frenético de Mark Williams & Danny Penman
Monica Hinkelmann
Psicóloga – CRP 06/120674